Psicologia

A psicoterapia é um espaço de cuidado, que favorece o desenvolvimento subjetivo. Com a atenção aos aspectos sociais, culturais e históricos, permite lidar com os sofrimentos que emergem de nossas trajetórias de vida. Explicando melhor, a psicoterapia traz a possibilidade de romper com dinâmicas viciadas, entendendo essa expressão (“dinâmicas viciadas”) como modos repetitivos de pensar, de sentir e de gerar sentidos que não são produtivos no momento presente, pois nos causam problemas e sofrimentos. Saúde seria nossa capacidade de seguir gerando novos sentidos diante das situações de vida, de modo a encontrar alternativas para nossas questões existenciais. E a psicoterapia, por sua vez, é um espaço onde essas repetições, dolorosas e disfuncionais, podem ser vistas e trabalhadas. Isto é, um espaço potencial para transformação.

Dentre as possibilidades do que pode ser abordado aqui, estão: 1) experiências traumáticas que deixaram marcas emocionais, que nos prendem a um passado doloroso; 2) relacionamentos conflitivos, com dificuldades de comunicação; 3) padrões de agir, sentir e pensar que nos fazem sofrer e causam sofrimentos a outras pessoas.

Para que você possa entender mais sobre o trabalho terapêutico com profissionais de psicologia, gostaríamos de contar um pouco sobre essa ciência. Um dos aspectos que definiu historicamente o perfil da psicologia como ciência e profissão foi, com certeza, a psicoterapia. Assim, é comum na imaginação do público em geral associar a psicologia à clínica. Embora essa não seja a única área de atuação da psicologia, certamente é uma parte importante do trabalho psicológico. Sabendo que a psicologia é uma disciplina bastante diversa, cujo campo abarca das ciências humanas às ciências de saúde, não existe uma definição padrão que inclua todos os seus aspectos. Em termos históricos, sabemos que a psicologia se desenvolveu em vários espaços institucionais (consultório, escola, quartel, hospital, empresa, laboratório, etc.) como maneiras para lidar com diferentes tipos de problemas do campo da subjetividade antes mesmo de se formalizar como uma disciplina científica. A linguagem psicológica se tornou um critério importante nas sociedades democráticas para tomar decisões adequadas, solucionar problemas e mediar conflitos. E tem sido utilizada não só por profissionais de psicologia, mas também por governantes, magistrados, educadores, gestores, pais, etc. (Rose, 1998).

Por outro lado, seria um erro considerar que a psicologia é exclusivamente uma “ciência do indivíduo”, voltada apenas para algum tipo de interioridade. Como a subjetividade humana se constitui na cultura, nas relações sociais e nos processos históricos, a psicologia precisa ser desde o princípio uma ciência social ou, no mínimo, sensível a estas dimensões da vida. Mesmo no setting mais convencional da psicologia clínica, o consultório para terapia individual, os problemas psicológicos que comparecem nesse espaço têm sempre uma dimensão social e cultural. Assim, acreditamos que é fundamental na formação e no trabalho em psicologia uma compreensão ampla do contexto cultural, do pertencimento social e da época histórica em que vivemos. Muitos dos sofrimentos e dilemas existenciais trazidos para a clínica derivam das desigualdades, violências e hierarquias cotidianas. Portanto, o/a profissional de psicologia fica estar atento/a aos impactos de todas as formas de desigualdade e discriminação sobre as subjetividades. Sem essa compreensão ampla, a psicologia corre o risco de praticar uma psicoterapia normativa e que reduz ao indivíduo a origem de seus próprios problemas.